sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Anjos do bem e do mal - por Paulo Sant'ana

Entre as centenas de e-mails que recebo por semana, sempre vêm três ou quatro de pessoas perversamente más.

São malvadas, são destruidoras, são corrosivas, mal-humoradas.

Já eu sabia que a maldade humana não tem limites.

Mas uma pessoa expor assim numa mensagem a sua maldade é um espetáculo triste e desolador.

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O indivíduo mau se equipara às serpentes. As escamas das serpentes contêm a maldade e a destruição.

Eu me apavoro que existam pessoas tão más entre nós, embarcam nos mesmos elevadores que nos transportam, são iguais a nós, pertencem à nossa espécie, mas são visceralmente más.

Esses raros perversos que escrevem não devem exercitar a maldade que mostram inelutavelmente nas linhas que escrevem.

Mas ameaçam. Acho que não têm coragem de ser assim tão maus como apregoam. Vai ver que é só da boca para fora.

Mas claramente possuem o potencial de maldade que propagandeiam.

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Diz o Velho Testamento que os maus por si se destroem. Só que, antes de se destruírem de per si os maus, quantos outros bons eles destroem ou molestam por seu caminho?

A característica básica dos maus, pelo que tenho notado, é que não possuem compaixão.

Esses maus homens são cruéis, implacáveis, só se saciam quando fazem os outros sofrerem.

Eu não sei se me orgulho de ser humano, espelhando-me em Da Vinci, Cristo, Gandhi e outros grandes vultos da humanidade.

Ou então me envergonho de ser humano, mirando os exemplos de Hitler, Átila e Hernán Cortés.

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É impressionante a dualidade humana. Pode haver num só peito de alguma pessoa um demônio que ruge e um deus que chora.

Há homens que se dedicam ao amor e à paz, outros se atiram ao ódio e à carnificina.

E o que me espanta é que os homens com essas inclinações adversas muita vezes convivem na mesma nação, na mesma escola, na mesma rua e até no mesmo lar.

Constituem ao mesmo tempo o ângulo obtuso e o ângulo reto, uma feição demoníaca, outra divina.

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E o impressionante é que, a par das milhares de mensagens construtivas que recebo durante um ano, no entanto a elas se contrapõem algumas dezenas de votos destrutivos, contaminados pela crueldade.

A mim abisma que possam existir pessoas tão más e no entanto elas estão próximas de nós, correspondendo-se conosco, o que quer dizer que somos do mesmo meio delas.

Do ventre de uma mulher, pode brotar um homem mau ou um homem bom. Depende do signo, do atavismo, das forças todas que se reúnem e deliberam em sua luta se uma criatura servirá o bem ou o mal.

A Bíblia não faz outra coisa senão nos assegurar que os homens podem ser obedientes a Deus ou servos do Diabo.

Como diz o meu ídolo-poeta Augusto dos Anjos, “o carpinteiro que fabrica as mesas faz também os caixões do cemitério”.
( Publicado no jornal Zero Hora do dia 6 de setembro de 2013, página 55 )

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

“Barbas de molho”, por Paulo Vellinho*

Todos sabem que a autoridade e a disciplina são cláusulas pétreas em todos os níveis de gestão, na família, empresa privada, entidade associativa, nos três poderes que nos governam, municípios, Estados e nação, estabelecendo-se limites sem os quais cada um arbitra seus direitos e deveres.

Por exemplo, ao anistiar 418 bombeiros e sua chefia por terem invadido o seu quartel, quebrou-se a espinha dorsal do poder militar.

Prevaleceu o bom-mocismo que os demagogos e populistas adoram praticar.

Nunca vivi uma situação como a atual, quando se destroem os valores éticos e morais da sociedade, tendendo-a para o anarquismo: faz-se bondade e justiça com o dinheiro público e as consequências são o caos.

Demagogia, populismo e irresponsabilidade são palavras amadas por esses senhores.

Em nome da ideologia fracassada, buscam destruir a sociedade, desestabilizando-a social e economicamente e abrindo-se a porta para o estado de emergência e uma ditadura; cai então a máscara da falsa democracia que praticavam, pretendendo adotar os modelos cubanos e bolivarianos.

Certamente, não é isso que a maioria da sociedade brasileira deseja, pois, se assim fosse, a avidez da nova classe média pelo consumo não teria acontecido.

Como consequência, não tem mais espaço para uma sociedade que abrace a pobreza e a miséria em nome de modelos fracassados para então desenvolver-se.

Conforto e bem-estar são apanágios do Brasil de hoje e tenho certeza de que os dependentes do Bolsa Família, o que mais desejam é livrar-se da dependência do governo paternalista.

O novo poder que emana das redes sociais mostrou em junho passado a sua força, o que foi suficiente para que os poderes constitucionais se agilizassem, o Congresso, por exemplo, que “abriu seus armários” tirando deles “esqueletos” já mofados de tanto esperar pela aprovação.

Enganam-se os que pensam que remendos que estão sendo feitos vão cooptar os descontentes, pois a sociedade brasileira quer mudanças e não paliativos, o restabelecimento dos valores éticos e morais, única força capaz de acabar com os corruptores e corruptos, que com seus atos impunes dão péssimo exemplo para a sociedade saudável, encerrando-se o ciclo da impunidade.

Já convivi com “golpes de Estado”, Congresso fechado e a reação dos seus integrantes, alguns heroicos como Márcio Moreira Alves, que se comportou como Homem, enquanto outros buscavam acomodar-se de uma forma invertebrada para não perder o poder... e obviamente a remuneração.

Na minha opinião, os poderes nacionais, da área privada e da área pública, devem refletir sobre os acontecimentos de junho passado, fazendo um mea-culpa quando couber e então pôr suas “barbas de molho”, para evitar o pior.
(Publocado no jornal Zero Hora do dia 19 de setembro de 2013, na página 15 )

*EMPRESÁRIO